visita-me
enquanto não envelheço
toma
estas palavras cheias de medo e surpreende-me
com teu
rosto de Modigliani suicidado
tenho
uma varanda ampla cheia de malvas
e o
marulhar das noites povoadas de peixes-voadores
vem
ver-me
antes que a bruma contamine os alicerces
as
pedras nacaradas deste vulcão a lava de desejo
subindo
à boca sulfurosa dos espelhos
vem
antes
que desperte em mim o grito
dalguma
terna Jeanne Hébuterne a paixão
derrama-a
quando na tua ausência se prende às veias
prontas
a esvaziarem-se do rubro ouro
perco-te
no sono das marítimas paisagens
estas
feridas de barro e quartzo
os
olhos escancarados para a infindável água
vem
com teu
sabor de açúcar queimado em redor da noite
sonhar
perto do coração que não sabe como tocar-te
[AL
BERTO (1948 – 1997)]
(O
Medo)
(in
Poemário Assírio & Alvim 2014)
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