Er’alto, muito alto.
Outr’ora, verdejante,
Viveu num pinheiral;
foi um pinheiro. Tinha
No tronco erguido ao
ar, ramagem, muita pinha,
E a seiva percorria o
corpo do gigante.
Se o rapazio da vila, a
chilrear, trepava
Pelos seu ramos, ele –
avô bonacheirão –
Em vez de se zangar,
até os ajudava,
De forma que nenhum
vinha para o chão.
Em suma era feliz.
Robusto, resistia
Ao vento, ao sol, à
chuva, à neve, à tempestade;
Mas como nunca é eterna
a f’licidade,
A golpes de machado ele
tombou um dia.
Hoje é um poste liso. É
esguio, é feio e forte,
Não tem vida nem seiva.
Imóvel está ali
À beira de um trigal…
Que triste a sua sorte!
A árvore tornou-se em
um imenso I…
No topo ele sustenta os
fios da longa meada
Que entrelaçando o
mundo, ao mundo as novas leva:
<<Paris 8, manhã:
- Rostand doente. Neva.>>
<<Belgrado: 22 –
A Sérvia revoltada.>>
As notícias banais e as
novas d’importância;
Inventos, revol’ções,
catástrofes e guerras;
Nos fios circula tudo.
Os homens, numa ânsia,
Informam-se e assim
‘stão perto as longes terras.
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MÁRIO DE
SÁ-CARNEIRO (1890 – 1916) – Poemas
Completos
(edição de Fernando
Cabral Martins)