Sexta-feira,
13.04.2012
ROMARIZ
Asseguro-vos
que às vezes, de uma pessoa
sei
que tive medo, e das demais…
Dir-me-eis
que não fui ao mar para as salvar.
No
oceano preferi ver o meu corpo, por trás da areia
a
temeridade, adquirindo o matrimónio; as locuções, toques,
visões,
a quietude dita três vezes pulmões de eternidade.
Bordando
perto das sestas, ou seja, já em plena miséria
um
corpo levante dinâmico, o parágrafo do mar:
Olha para o ventre-aquário! e diz ao vulto
no tendão aparecido
agora é ao tempo, deste rosto, com por um
outro,
cujo recém reparo se já inverte até ao
ventre,
apesar de ungido nu e mudo a cada tempo.
Daqui
desço às moradas, para retomar a minha forma humana.
ANTÓNIO POPPE (1968) – Torre de Juan Abad
Sábado,
14.04.2012
PRIMAVERA
DAS FLORES NEGRAS
Primavera
das flores negras, o que te impede
é
a febre dos mortos,
Primavera
das flores negras, o que te impede
é
um vento contínuo do norte,
uma
sepultura é meu Abril,
uma
noite visionariamente sombria das flores negras,
são
irmãs estranhas que para os campos te impelem,
quando
os corvos grasnam
e
as colinas bebem borrascas.
Primavera
das flores negras, o que te impede
é
a febre dos mortos,
Primavera
das flores negras, o que te impede
é
um vento contínuo do norte,
eu
vou dormir, amanhã já
neve
e solidão me hão-de cobrir atrás dos teus sapatos…
são
irmãs estranhas que para os campos te impelem,
quando
os corvos grasnam
e
as colinas bebem borrascas.
THOMAS BERNHARD (1931 – 1989) - Na Terra e no Inferno
(tradução de José A. Palma Caetano)
Domingo,
15.04.2012
BAIRRO
JUDAICO
Em
vaso incerto, a claridade
por
isso aconselhavas
o
caminho mais obscuro
histórias
rarefeitas, impossíveis
a
daquela mulher
do
bairro judaico
que
contava a sua vida
por
um estranho calendário
de
limões e enguias
previa
a cada instante
seu
próprio desaparecimento
e
tem uma simplicidade aterradora
o
nenhum peso da luz
tenho
tanto medo
da
nudez
esse
nome final!
MÁRIO RUI DE OLIVEIRA (1973) – Bairro Judaico