Da
última vez que morri (e, querida, morro
Tantas
vezes quantas de ti me aparto)
Ainda
que tenha sido há uma hora apenas,
E
as horas dos amantes sejam uma eternidade,
Consigo
recordar, que eu
Disse algo, e concedi algo
Que,
apesar de morto me fez voltar, e obrigou a ser
O
meu próprio executor e herança.
Ouvi-me
falar: <<Diz-lhe já
Que eu>> (ou seja tu, não eu)
<<Me
matou>>; e quando me senti morrer
Deliberei
enviar o meu coração depois de ter partido.
Mas
– infeliz! – não encontrei lá nenhum,
Quando me abri e procurei no sítio onde
se guardam.
Matou-me
outra vez que eu, sempre sincero
Em
vida, na minha última vontade te defraudasse.
Se
bem que encontrei algo semelhante a um coração,
Mas tinha cores e cantos.
Não era bom, nem era mau,
Não
era fiel a ninguém, e alguns o partilhavam.
O
melhor que se podia arranjar por arte
Parecia; por isso, triste por nossas
perdas,
Pretendi
mandar este coração em vez do meu.
Mas
oh, nenhum homem o podia segurar, porque era o teu.
[JOHN
DONNE (1572 – 1631)
(Poemas
Eróticos)
(tradução
de Helena Barbas)
(in
Poemário Assírio & Alvim 2013)
Sem comentários:
Enviar um comentário