segunda-feira, 27 de abril de 2015

SALOMÉ

Insónia rôxa. A luz a virgular-se em mêdo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua…
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segredo…

Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas…
O arôma endoideceu, upou-se em côr, quebrou…
Tenho frio… Alabastro!... A minh’Alma parou…
E o seu corpo resvala a projectar estátuas…

Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecôa-me em quebranto…
Timbres, elmos, punhais… A doida quer morrer-me;

Mordoura-se a chorar – há sexos no seu pranto…
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na bôca imperial que humanizou um Santo…

                   Lisboa 1913 – Novembro 3

[MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO]

(in “Orpheu” - 1º número)

Sem comentários:

Enviar um comentário