Onde terá começado a
metalização da fala?
uma porta em alvenaria
dá acesso
à eira de misteriosos e
profundos limos
onde terei esquecido a
cicatriz azul da escrita?
uma flor invade os veios
secos da pedra
incendeia-se antes de se
diluir na poeira
onde terei dado de beber
à melancolia da
há pistas estreitas de
animal ferido pelas paredes memória?
o sangue transmutado em
raríssimo metal
faz do coração e das
veias a possível mina
onde vibrará a selvagem
luminosidade dos pulsos?
dentro do sonho
segui-las-emos ao amanhecer
onde se esconderá o
diminuto rosto ainda vivo?
insondáveis são as
catástrofes da alma
e da loucura que já não
nos prende um ao outro
que destino nos revela a
mão sem linha da vida?
escuto o bater do tempo
sob as pálpebras
e o terrível som da
máquina de escrever
de <<Uma Existência de Papel>>: Os Dias Sem
Ninguém, 1984/85
[AL BERTO (1948 – 1997)]
(Vigília)
(in Poemário Assírio
& Alvim 2013)
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