No âmago de um amargo de boca
se encontra uma qualquer idiota ideia
que se insinua, nos apanha, nos toca
e nos penetra na veia.
Ficamos angustiados, dependentes
querendo cada vez mais
que o desejo não se vá
que nos dê cabo dos dentes
e que, oxalá, não se ausente.
E o tempo passa e ficamos doentes
de raiva por não ter reagido
e mandado àquela parte o foragido
que nos veio empestar as mentes.
Ah!, quantas ideias do sério nos tiram
a paciência nos roubam
e as amarras nos colocam
nas vontades que ainda ficaram.
Ah!, e quantas vezes, a quente, agimos
e quantas vezes, sem conta, fugimos
e nos vamos enfiar no colo de alguém
que nos diz: pois, eu estou assim também?
No âmago de um amargo de boca
se perde um momento de felicidade.
[CARLOS SOUSA RAMOS]
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