sábado, 21 de fevereiro de 2015

[ONDE POREI MEUS OLHOS QUE NÃO VEJA]

Onde porei meus olhos que não veja
A causa, donde nasce meu tormento?
A que parte irei co pensamento
Que para descansar parte me seja?

Já sei como s'engana quem deseja
Em vão amor firme contentamento
De que nos gostos seus, que são de vento,
Sempre falta seu bem, seu mal sobeja.

Mas ainda sobre claro desengano
Assim me traz est'alma sogigada,
Que dele está prendendo o meu desejo.

E vou de dia em dia, de ano em ano,
Após um não sei quê, após um nada,
Que, enquanto mais me chego, menos vejo.

[DIOGO BERNARDES (1530? - 1596?)]
(in "Do Infinito Mar do Meu Desejo")

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