domingo, 1 de fevereiro de 2015

OS CÃES

Eram loucos. Alguns deles eram loucos,
parados uma tarde inteira ao pé
do arame, esquecidos, sobre o pó,
gemendo lentamente, sei
de fonte segura que eram loucos,
alguns brutíssimos, rodam sobre si
próprios incansáveis, e ladram,
ou gemiam apenas, lentamente
como um sopro de vento
quando dá no capim, ou sobre
o pó gemem esquecidos, deitados,
furiosos, ladram, loucos
uma noite inteira, brutíssimos,
coçando-me incansável nas 
pontas do arame, e logo ladro,
gemem, <<está no papo>>, uma merda,
a merda destes cães deitados
porque em pé, percebes, eu já
não (aguento) e fiz o possível,
fizeram o possível por apenas
gemer somente, cães que somos
dez, vinte, chama-se <<Niassa>>,
ou <<Tejo>>, vinha deitar-se aqui,
e principalmente rodam, rodam sempre,
vou rodando à velocidade
incrível da bala. Eram loucos.

[FERNANDO ASSIS PACHECO (1937 - 1995)]
(A Musa Irregular)
(in Poemário Assírio & Alvim 2013)

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