segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

ÚLTIMO SONETO

Que rosas fugitivas foste ali:
Requeriam-te os tapetes - e vieste...
- Se me dói hoje o bem que me fizeste,
É justo, porque muito te devi.

Em que seda de afagos me envolvi
quando entraste, nas tardes que apareceste -
Como fui de percal quando me deste
Tua boca a beijar, que remordi...

Pensei que fosse o meu teu cansaço -
Que seria entre nós um longo abraço
O tédio que, tão esbelta, te curvava...

E fugiste... Que importa? se deixaste
A lembrança violeta que animaste,
Onde a minha saudade a Cor se trava?...

[MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890 - 1916)]
(in "Do Infinito Mar Do Meu Desejo")]

Sem comentários:

Enviar um comentário