terça-feira, 24 de março de 2015

A UM HOMEM DO PASSADO

Estes são os tempos futuros que temia
o teu coração que mirrou sobre pedras,
que podes recear agora tão fundo,
onde não chegam as aflições nem as palavras duras?

Desceste em andamento, afinal era
tudo tão evitável como o resto.
Viraste-te para o outro lado e sumiram-se
da tua vida os bons e os maus momentos.

Tu ainda tinhas essa porta à mão.
(Aposto que a passaste com um vénia desdenhosa.)
Agora já não é possível morrer ou,
pelo menos, já não chega fechar os olhos.

[MANUEL ANTÓNIO PINA (1943 - 2012)]
(Todas as Palavras - poesia reunida (1974 - 2011))
(in Poemário Assírio & Alvim 2014)

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