domingo, 29 de março de 2015

PORTAS FECHADAS

As sombras repetem-se
e chegam trémulas
ao pé das cidades.
Ninguém quer abrir as portas
com medo da epidemia.

O sangue desce das montanhas
e interna-se nos hospitais.
Nos quartéis choram os cavalos
e não querem ouvir falar de guerra,
têm más recordações,
pensam nas pradarias
e nas suas companheiras de amor.
Os cavalos são ternos
e olham com dor para os torturados.

De noite ouvem os gemidos
e os seus cascos batem
para espantar os mortos.

Assim é agora a epidemia do sangue.
Sobre os ombros dos vinte anos
a morte cruel caminha e é estrondo,
chama ou cinza arrastada pelo vento.

[MATILDE ESPINOSA (1910 – 2008)]
[in Um País que Sonha – cem anos de poseis colombiana (1865 – 1964)]
(selecção e prólogo de Lauren Mendinueta, tradução de Nuno Júdice)

(in Poemário Assírio & Alvim 2014)

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