segunda-feira, 19 de março de 2012

É VERDADE

É VERDADE que quase andamos como órfãos;
Temos o bem de outrora, mas anda não s sua cultura;
Contudo os jovens, tendo presente a infância.
Não são também estranhos em sua casa.
Vivem triplamente, tal como viveram também
Os primeiros filhos do Céu.
E não foi em vão que foi dada
A fidelidade à nossa alma.
Não apenas a nós, mas a vós também ela guarda,
E junto aos tesouros sagrados, às armas da Palavra,
Que nos deixastes a nós, os menos hábeis,
Ao vos apartardes, ó filhos do Destino,
Ó bons espíritos, aí estais vós também,
Muitas vezes, quando a sagrada nuvem envolve alguém,
Enchemo-nos então de assombro e não o sabemos interpretar.
Vós, porém, temperai-nos de néctar o sopro
E então exultamos muitas vezes ou abate-nos
Um pensamento, mas quando amais alguém em excesso,
Ele não descansa até se tornar um de vós.
Por isso, ó Bondosos, rodeai-me levemente
Para que eu possa ficar, pois muito há ainda a cantar,
Mas agora termina, em pranto de alegria,
Como uma lenda de amor,
O meu canto, e assim também me aconteceu
desde o princípio, com rubor e palidez.
E tudo assim acontece.

FRIEDRICH HOLDERLIN (1770 – 1843)  - Hinos Tardios (tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado)

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