sábado, 17 de março de 2012

QUE AINDA vejo...

QUE AINDA vejo, no tecto dos lares que
abandonei,
um insecto, uma teia, uma constelação,
e lá fora
as vinhas, o melro na anoneira,
os figos quando se desce para o mar,
os cactos floridos nas veredas do pai,
tudo o que serve ao verso magoado, aos seus
declives,
à sua água,
ao sangue que o percorre,

calem os punhais do homicida,
fechem a cor das trevas a sete chaves,
não pronunciem em vão o meu santo nome,
a palavra amigo,
a palavra órfão, maldito, mendigo,
todas as palavras que escrevo,

[…]
JOSÉ AGOSTINHO BAPTISTA (1948) – Esta Voz É Quase o Vento

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