domingo, 18 de março de 2012

RENOVO

Doentia, a primavera expulsou tristemente
O inverno, a estação da arte calma, o lúcido
Inverno, e este meu ser que um sangue morno inunda
De impotência se estira em um bocejo lento.

O meu crânio amolece em crepúsculos brancos
Sob o ferro em tenaz, como um túmulo antigo,
E eu, triste, eis-me a errar pelos campos seguindo
Um sonho belo vago, entre a seiva estuante,

Depois cedo ao odor das árvores, cansado,
Com a face a cavar uma fossa ao meu sonho,
E mordendo os torrões onde crescem lilases,

Aguardo, a abismar-me, o meu tédio a evolar-se…
- Entretanto o Azul, sobre a sebe e o alvor,
Ri das aves em flor ao sol a chilrear.

STÉPHANE MALLARMÉ (1842 – 1898) - Poesias (tradução, prefácio e notas de José Augusto Seabra)

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