Poemas sobre alguém
simultaneamente real e imaginário. Não são mensagens, apenas versos um pouco
absurdos na sua inútil clareza. Falam de quem, com quem, desconhece o que
imaginei. Inutilidade maior das palavras assim agrupadas, dirigindo-se a quem
não as conhecerá nem as poderá entender. Cartas para ninguém, que é alguém sob
a verdade das imagens. Ignoro até que ponto é esta a realidade. Verdade,
realidade, criei-as ou fui por elas inventado? Num exacto momento elas
introduziram factos na minha vida. O poder da visão tornou-me real e levou-me a
imaginar que éramos reais: alguém, não existindo com a existência que a minha
mente lhe dera, estava diante de mim; e eu estava diante de alguém que via a
minha visão e ignorava o que nela era a sua própria realidade.
GASTÃO CRUZ (1941) - Outro Nome, Escassez, As aves
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