domingo, 8 de abril de 2012

PARA NINGUÉM


                Poemas sobre alguém simultaneamente real e imaginário. Não são mensagens, apenas versos um pouco absurdos na sua inútil clareza. Falam de quem, com quem, desconhece o que imaginei. Inutilidade maior das palavras assim agrupadas, dirigindo-se a quem não as conhecerá nem as poderá entender. Cartas para ninguém, que é alguém sob a verdade das imagens. Ignoro até que ponto é esta a realidade. Verdade, realidade, criei-as ou fui por elas inventado? Num exacto momento elas introduziram factos na minha vida. O poder da visão tornou-me real e levou-me a imaginar que éramos reais: alguém, não existindo com a existência que a minha mente lhe dera, estava diante de mim; e eu estava diante de alguém que via a minha visão e ignorava o que nela era a sua própria realidade.

GASTÃO CRUZ (1941) - Outro Nome, Escassez, As aves

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