Sagra, sinistro, a
alguns o astro baço.
Seus três anéis
irreversíveis são
A desgraça, a amargura,
a solidão…
Oito luas fatais fitam
o espaço.
Este, poeta, Apolo em
seu regaço
A Saturno entregou. A
plúmblea mão
Lhe ergueu ao alto o
aflito coração,
E, erguido, o apertou,
sangrando lasso.
Inúteis oito horas da
loucura
Quando a cintura
tríplice denota
Solidão e desgraça e
amargura!
Mas de noite sem fim um
rastro brota,
Vestígios de maligna
formosura…
É a lua além de Deus,
álgida e ignota.
FERNANDO
PESSOA (1888 – 1935) Poesia 1918 – 1930
( edição de Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas e Madalena Dine)
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