segunda-feira, 16 de abril de 2012

PARA TI

Oiço a tua voz
dentro desta sala
tão nua e beijo
os teus olhos
fugidios,
perdidos no sorriso
irónico,
que só tu sabes
porque o tens.

Vejo o teu vulto

esguio
em qualquer pintura,
os ombros,
os teus ombros,
sobretudo,
vejo-os no realismo
destas minhas
mãos
abertas,
vazias,
tão minhas
e tão sós.

Depois, tu,

ao longe,
serás luz
e cor,
serás tu
própria,
envolta já
no tule da noite.

Que me importa?


Se és tu,

tu mesma.

JOSÉ MANUEL FERREIRA LOPES (1955) – in O famoso Caderno

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