sábado, 21 de abril de 2012

HÁ NA

HÁ NA intimidade um limiar sagrado,
encantamento e paixão não o podem transpor –
mesmo que no silêncio assustador se fundam
os lábios e o coração se rasgue de amor.

Onde a amizade nada pode nem os anos
da felicidade mais sublime e ardente,
onde a alma é livre, e se torna estranha
à vagarosa volúpia e seu langor lento.

Quem corre para o limiar é louco, e quem
o alcançar é ferido de aflição…
agora compreendes por que já não bate
sob tua mão em concha o meu coração.

ANNA AKHMÁTOVA (1889 – 1966) – Só o Sangue Cheira a Sangue (selecção, introdução e tradução de Nina Guerra e de Filipe Guerra)

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