domingo, 22 de abril de 2012

A INFÂNCIA

O menino cantava; sua mãe, no leito, agonizava,
Extenuada, a sua fronte na sombra pendia;
E sobre ela, a morte numa nuvem vagueava;
E eu ouvia a canção e escutava a agonia.

Tinha cinco anos o menino, e junto à janela,
Um claro som de riso e de jogos se erguia;
E a mãe, ao lado da criança doce e bela
Que todo o dia cantava, toda a noite tossia,

A mãe sob as lajes do claustro foi dormir,
E o menino voltou a cantar…
A dor é um fruto que Deus não faz surgir
Num ramo frágil demais para o suportar.
Paris, Janeiro de 1835

VICTOR HUGO (1802 – 1885) – Poemas (selecção e tradução de Manuela Parreira da Silva)

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