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Homem, estranha
encarnação da NATUREZA,
Soberbo, criação
efémera, poderei eu olhar
Para ti indiferente e,
calmo observar
Tua alegria e dor, na
luta do mundo
E teu último e longo
cerrar de olhos na morte?
Gosto de olhar os teus
modos, de contemplar
Teus lugares, de espreitar
teu lar, de encontrar
Nos teus pequenos actos
algo grande.
Pois posso em mim
descobrir um sentido sublime
De que nasci para
pensar, para sentir
E não para olhar em vão
o que acontece;
Em momentos de calma e
repouso eu senti
Uma nobre comoção e uma
desusada alegria
Brotou em meu peito, e
também gratidão,
Trazendo aos olhos a
surpresa das lágrimas:
Donde vem não sei, mas
quando me detenho
Neste todo conjunto e
envolvente
Vejo por trás uma
enorme força e poder
Cujo rosto é como
música, invulgar e plena,
Que eleva meu coração e
ultrapassa
Os limites da razão
humana; música essa
Que me envolve todo num
esquecimento
Das coisas banais e das
ideias banais como elas.
ALEXANDRE
SEARCHE (FERNANDO PESSOA) (1885 – 1935) – Poesia
(edição e
tradução de Luísa Freire)
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