sábado, 15 de setembro de 2012

DA MITOLOGIA


No início havia um deus da noite e da tempestade, um ídolo negro sem olhos, nu e coberto de sangue. Mais tarde, nos tempos da república, havia muitos deuses e suas esposas e crianças, camas que rangiam e raios que explodiam de modo inofensivo. No fim apenas neuróticos supersticiosos traziam nos bolsos pequenas estátuas de sal, representando o deus da ironia. Nessa altura não havia um deus que sobressaísse.

E então vieram os bárbaros. Também eles tinham em grande conta o deus da ironia. Esmagá-lo-iam com os calcanhares e usá-lo-iam para decorar os seus manjares.

ZBIGNIEW  HERBERT (1924 – 1998)
Escolhido Pelas Estrelas – antologia poética
(apresentação e versões de Jorge Sousa Braga)

Sem comentários:

Enviar um comentário