Às vezes, nas ruas de Haarlem, o vento
sopra de onde menos se espera.
O céu tolda-se numa agreste bonomia
e recordamos as lições dos mestres:
abelha pousando sobre uma caveira nua
ou sobre o exausto corpo feliz
que sentámos à mesa do Grande
Café Brinckman
Warm meat, numa baguete simples
- tudo o que nos permita esquecer os vermes,
um barco sem dono no mais sujo dos canais.
Não me apetece chamar-lhe <<vida>>,
enquanto a manhã rapidamente se despede
e a abelha morre anónima, sob o meu corpo de cerveja.
Às vezes, nas Às vezes, ruas de Haarlem, tudo
ou quase tudo nos espanca de alegria o rosto,
a lisa caveira que ninguém pintará.
O defeito, percebemos, é o rosto, somos nós, o nada
que
gentilmente habita as casas onde não morremos.
MANUEL DE FREITAS (1972) – A Última Porta (Antologia)
(selecção e posfácio de José Miguel Silva)
Sem comentários:
Enviar um comentário