domingo, 23 de setembro de 2012

SONETO XX21 / AMOR E MORTE


Veio uma figura com o séquito da vida
            Que tinha as asas do Amor e usava o seu pendão:
            Bela era a trama, e aí nobremente tecidas,
Oh, face sequestrada pela alma, a tua forma e cor!

Sons desconcertantes. Como os que acordam a Primavera,
            Turbavam-lhe nas dobras; e pelo meu coração o seu poder
Correu sem rastro como a hora imemorável
Em que range o portal escuro do nascimento e tudo é novo.

Mas uma mulher velada acudiu, e apanhou
            A insígnia pela sua haste, para desfraldar e seguir, -
            Depois arrancou uma pena da asa do portador,
E levou-a aos lábios que a não fizeram mexer,
            E disse-me, <Vê, não respiro:
            Eu e este Amor somos um, e eu sou a Morte.>

DANTE GABRIEL ROSSETTI (1828 – 1882)
in Os pré-Rafaelitas – Antologia Poética
(prefácios e tradução de Helena Barbas)

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