sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A FACA NEGRA

A faca não lhe cortou o fogo
Hão-de escrever, como os gregos, quando as entranhas
Se me abrirem num buraco enorme,
Ébrio de infinito.

Enquanto alinhavei os versos
Numa métrica fiel aos mestres do passado,
E me condoía com a lírica doce
Do João, o de Deus,
A razão dominava tirana em busca de palavras púberes,
Pilares da força comum na matéria
E no espírito, na aprofundação das ideias-mães
Pharoes da minha fronte, numa montanha
Sem luzes.

Terei o corpo torcido por sonhos infelizes
Quando os tinha,
Que o meu sonho era de insónias.
Vou sendo carcomido por exemplos menores
De resíduos históricos, devassado
Pelos vermes da inércia, devolvido
Em esplendor à procedência
Fúnebre.
ARMANDO SILVA CARVALHO (1938) – Anthero, Areia E Água

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