sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

TRÊS CHAVES

                               Deus tem três chaves: a da chuva, a do
                        nascimento, a da ressurreição dos mortos.
                                                                                        (Talmude)

Três chaves.
Ter voltado, pelo menos, três vezes.

Em Atenas, ouvinte
de Sócrates. Ao longo das estradas
deixando epitáfios sobre a pedra
dos túmulos. Viver, ficar
de memória em memória.
E num relance
ter reencontrado os olhos de Ulisses.

Em Florença, contemplando
Botticelli, Leonardo, Miguel Ângelo.
Querer-lhes tanto
como à própria vida.
Pertencer àquelas casas,
ao chão. Ser água desse rio,
que me lavasse.

Em Lisboa, cartógrafo.
Desenhar o outro lado do mundo.
Amar como suas
as novas constelações.
E, pelo menos, ter ouvido
- dito por ele – um fulgurante,
atormentado soneto de Camões.

ANTÓNIO OSÓRIO (1933) – Casa das Sementes – Poesia Escolhida

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