Esquivo sortilégio o dessa voz, opiada
Em sons cor de amaranto, às noites de incerteza,
Que e lembro não sei d'Onde - a voz de uma Princesa
Bailando meia nua entre clarões de Espada.
Leonina, ela arremessa a carne arroxeada;
E bêbada de Si, arfante de Beleza,
Acera os seios nus, descobre o sexo... Reza
O espasmo que a estrebucha em Alma copulada...
Entanto nunca a vi mesmo em visão. Somente
A sua voz a fulcra ao meu lembrar-me. Assim
Não lhe desejo a carne - a carne inexistente...
É só de voz-em-cio a bailadeira astral -
E nessa voz-Estátua, ah! nessa voz-total,
É que eu sonho esvair-me em vícios de marfim...
Lisboa, 1914 - janeiro 31.
[MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890 - 1916)]
(Verso e Prosa / edição de Fernando Cabral Martins)
(in Poemário Assírio Alvim 2013)
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