domingo, 4 de janeiro de 2015

DE TARDE

Naquele <<pic-nic>> de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
em todo o caso dava aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

[CESÁRIO VERDE (1855 - 1886)]
(O Livro de Cesário Verde)
(posfácio e fixação do texto de António Barahona)
(in Poemário Assírio & Alvim, 2013)

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