domingo, 18 de novembro de 2012

O TIGRE


Tigre, Tigre, brilho em brasa,
Que a floresta à noite abrasa:
Que olho eterno ou mão podia,
Traçar-te a fera simetria?

Em que longe lerna ou céus,
Ande o fogo de olhos teus?
Em que asas ousa ele ir?
Que mão ousa o fogo asir?

E qual ombro, & qual arte,
Pode os tendões do cor vergar-te?
Quando a bater teu cor se pôs,
Que arroz mão? que pó de arroz?

Qual martelo’ qual o grilo,
Foi teu cér’bro em que fornilho?
Que bigorna? que atra garra,
Teu moral terror amarra?

Quando estrelas dardejaram
E com seu pranto os céus molharam:
Sorriu vendo o feito o obreiro?
Quem fez a ti fez o Cordeiro?

Tigre, Tigre brilho em brasa,
Que a floresta à noite abrasa:
Que olho eterno ou mão podia,
Ousar-te a fera simetria?

WILLIAM BLAKE (1757 – 1827)
Canções de Inocência e de Experiência – Mostrando os Dois Estados Contrários da Alma Humana
(tradução de Jorge Vaz de Carvalho)

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