sábado, 3 de novembro de 2012

PENSAMENTOS SOBRE O TEMPO


    Vós viveis no tempo e o tempo não conheceis;
    Do que sois e onde estais, vós, homens, não sabeis.
O que sabeis é só que num tempo nascestes
E que haveis de partir num tempo, tal viestes.
    Mas o que foi o tempo que em si vos deu guarida?
    E o que será esse outro que de vós fará nada?
O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual;
Mas sobre o tudo e o nada a dúvida é geral.
    O tempo morre em si, e de si renasceu.
    Um vem de mim e ti, outro és tu e sou eu.
O homem é no tempo, este nele também,
E no entanto o homem, quando ele fica, vai.
    O tempo é o que vós sois, vós sois o que o tempo é.
    Mas bem menos sois vós que aquilo que o tempo é.
Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,
P’ra nos levar de nosso para os tempos de lá
    E a nós de nós mesmos, para podermos ser
    Iguais àquele tempo que já deixou de o ser!

PAUL FLEMING (1609 – 1640)
in O Cardo e a Rosa (poesia do barroco alemão)
(selecção, tradução e prefácio de João Barrento)

Sem comentários:

Enviar um comentário