Vós viveis no tempo e o tempo
não conheceis;
Do que sois e onde estais,
vós, homens, não sabeis.
O que sabeis é só que num tempo nascestes
E que haveis de partir num tempo, tal viestes.
Mas o que foi o tempo que em
si vos deu guarida?
E o que será esse outro que
de vós fará nada?
O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual;
Mas sobre o tudo e o nada a dúvida é geral.
O tempo morre em si, e de si
renasceu.
Um vem de mim e ti, outro és
tu e sou eu.
O homem é no tempo, este nele também,
E no entanto o homem, quando ele fica, vai.
O tempo é o que vós sois, vós
sois o que o tempo é.
Mas bem menos sois vós que
aquilo que o tempo é.
Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,
P’ra nos levar de nosso para os tempos de lá
E a nós de nós mesmos, para
podermos ser
Iguais àquele tempo que já
deixou de o ser!
PAUL FLEMING (1609 – 1640)
in O Cardo e
a Rosa (poesia do barroco alemão)
(selecção, tradução e prefácio de João Barrento)
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