sexta-feira, 30 de novembro de 2012

GUIA-ME

Guia-me a só razão.
Não me deram mais guia.
Alumia-me em vão?
Só ela me alumia.

Tivesse Quem criou
O mundo desejado
Que eu fosse outro que sou,
Ter-me-ia outro criado.

Deu-me olhos de ver.
Olho, vejo, acredito.
como ousarei dizer:
<<Cego, fora eu bendito>>?

Como o olhar, a razão
Deus me deu, para ver
Para além da visão -
Olhar de conhecer.

Se ver é enganar-me,
Pensar um descaminho,
Não sei. Deus os quis dar-me
Por verdade e caminho.

FERNANDO PESSOA 81888 - 1935) - Ficções do Interlúdio
(edição de Fernando Cabral Martins)

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