sábado, 1 de dezembro de 2012

HÁ SÓ UMA TERRA

No tempo em que havia muitas Terras,
podíamos ferir, com leviana mão,
de morte os rios e os trigais:
havia de reserva muitos mais.
Hoje porém a Terra é uma só
e o fumo intenso.
Obstruídos os tímidos canais
por onde escoamos a nossa impaciência.
O rio uma náusea de peixe apodrecido.
Os vegetais recuam. A di-
solução? Ai, o desamor
tão pesado e compulsivo,
o húmido culto dos despojos
da (outrora longa) Terra que restar.

A.M. PIRES CABRAL (1941) – Antes que o Rio Seque

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