todas as flores murchas
que alguém te ofereceu
quando o rio parou de
correr e a noite
foi tão luminosa quanto
a mota que falhou
a curva – e o serviço
postal não funcionou
no dia seguinte
procuras ávido aquilo
que o mar não devorou
e passas a língua na
cola dos selos lambidos
por assassinos – e a
tua mão segurando a faca
cujo gume possui a
fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais
– nada a fazer
irás sozinho vida
dentro
os braços estendidos
como se entrasses na água
o corpo num arco de sal
tenso simulando
a casa
onde me abrigo do
mortal brilho do meio-dia
AL BERTO (1948 – 1997) – O Medo
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