sexta-feira, 15 de junho de 2012

TENHO uma pressa danada

TENHO uma pressa danada de ir a lado nenhum, com um zunzum
nas orelhas assobio perto de ti. Não se deve ver uma cara
tanto tempo, o assobio partir-se-á e já a dobrar a esquina
no retrovisor sinto que deixei atrás de mim uma miragem.

Insecto molhado, sacodes as asas da chuva de molha-parvos
e obrigo-te a vir comer à minha mão, um excelente dia
para passear, falar, conversar de braço dado, dar exercício
ao raciocínio, movimentar um pouco as pernas, esbracejar.
A pala da mão contra o sol inscreve beleza no retrato
mas mais não faz do que proteger-se do teu olhar acutilante.

Quando nos saites pornográficos para velhos as dentaduras
com mãos trémulas depositadas em copos de água de vidro
nos fazem perceber as cenas seguintes do verdadeiro sexo
oral, uma tristeza irrompe sem controlo pelas minhas lágrimas
dentro e quero ver cada vez mais para desaprender.

HELDER MOURA PEREIRA (1949) – Lágrima

Sem comentários:

Enviar um comentário