TENHO uma pressa danada
de ir a lado nenhum, com um zunzum
nas orelhas assobio
perto de ti. Não se deve ver uma cara
tanto tempo, o assobio
partir-se-á e já a dobrar a esquina
no retrovisor sinto que
deixei atrás de mim uma miragem.
Insecto molhado,
sacodes as asas da chuva de molha-parvos
e obrigo-te a vir comer
à minha mão, um excelente dia
para passear, falar,
conversar de braço dado, dar exercício
ao raciocínio,
movimentar um pouco as pernas, esbracejar.
A pala da mão contra o
sol inscreve beleza no retrato
mas mais não faz do que
proteger-se do teu olhar acutilante.
Quando nos saites
pornográficos para velhos as dentaduras
com mãos trémulas
depositadas em copos de água de vidro
nos fazem perceber as
cenas seguintes do verdadeiro sexo
oral, uma tristeza
irrompe sem controlo pelas minhas lágrimas
dentro e quero ver cada
vez mais para desaprender.
HELDER MOURA
PEREIRA (1949) – Lágrima
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