quarta-feira, 27 de junho de 2012

A UM DEUS SURDO

Ó quem me dera ter outra vez vint’anos
navegar no ignoto sem portulanos
o peito  feito para os da vida enganos
era sensacional ó hermanos

quem dera o brandy com castelo
o dedo ao arrepio de pêlo
o romanticismo do desvelo
e tudo isto fingindo um grande anelo

quem dera agora uma vez mais
o rápido de Irún no cais
a solicitude quente dos pais
ai eu tirando de ouvido muito ais

ó quem dera e outra vez viera e dera
a ruminante paciência que há na espera
o mistério lento da Primavera
o emblema desenhado pela namorada: uma hera.

FERNANDO ASSIS PACHECO (1937 – 1995) – A Musa Irregular

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