quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

AS HORAS

As horas de que tenho pena
São as que nunca viverei.
Astro, ‘standarte, azul, falena,
Manto de rei,

Miséria do lacónico auge,
Quando a ânsia foi grande e sangue.
Palácio fauce de leão langue.
A cascata de leve estruge

E entre áleas ou coberta a séries
De prantos por interromper,
Diverge a astros o dizeres
Que é certo morrer.

Por isso sonho alado, gala
Da tarde atónita e macia,
O rastro saqueou e opala
Sequência fria.
31.5.1917

FERNANDO PESSOA (1888 – 1935) – Poesia 1902/1917
(edição de Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas e Madalena Dine)

Sem comentários:

Enviar um comentário