sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

NOITE DE INVERNO

A tempestade tolda os ares,
A neve gira em torvelinho,
Ora como a besta a uivar,
Ora num choro de menino.
Ore revolve o colmo antigo
E gasto do nosso palheiro,
Ora nos bate ao postigo
Como tardio caminheiro.

Tristonha e escura choça velha,
Tão decrépito o nosso abrigo.
Querida velhinha, por que velas
Tu tão calada ao postigo?
Talvez te quebre de fadiga
A borrasca feia a rugir,
Talvez te enleies, minha amiga,
Sob o teu fuso a zumbir?

Por desespero, ó mais dilecta
Da minha jovem condição,
Bebamos; que é da caneca?
Seja alegre o coração.
Canta-me a da cotovia
Que além do mar vive em amor;
Canta a da donzela, como ia
Buscar água pelo alvor.

A tempestade tolda os ares,
A neve gira em torvelinho,
Ora como besta a uivar,
Ora num choro de menino.
Por desespero, ó mais dilecta
Da minha jovem condição,
Bebamos, que é da caneca?
Seja alegre o coração.

ALEKSANDR PÚCHKIN (1799 – 1837) – O Cavaleiro de Bronze e Outros Poemas
(tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)

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