domingo, 2 de dezembro de 2012

MUITO LHE DISSE


Muito lhe disse, pois tudo o que os porcos cogitam
            Ou cantam, quase sempre aos Anjos e a Ele se refere;
Muito pedi, por amor à Pátria, para que o Espírito
            De repente não se nos imponha sem ser invocado;
Muito também por vós, sobre quem, na Pátria, pesam cuidados,
            Aos quais a gratidão divina traz, sorrindo, os refugiados,
Conterrâneos meus! por vós, enquanto o lago me balouçava,
            E o remador, calmamente sentado, louvava a travessia.
Sobre a vasta superfície do lago havia um só alegre rumorejar de ondas
            Sob as velas e agora é a vez de a cidade que amanhece
Desabrochar e clarear. Deslizando a sombra dos Alpes
            Aproxima-se o barco e descansa no porto.
Aqui a margem é tépida e rasgados vales amáveis,
Iluminados na harmonia de atalhos, lampejam-me do seu verde.
Os jardins lado a lado e os botões brilhantes já despontam,
            E o canto dos pássaros convida o caminhante.
Tudo se torna familiar, mesmo a saudação de passagem
            Parede dita por amigos, todos os rostos parecem conhecidos.

FRIEDRICH HOLDERLIN (1770 – 1843) – Elegias
(tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado)

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