sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

DESENFREADOS (os últimos)


16.
Ser danado feito cão
Ou apenas enganado
A precisar de pão
Ser que a mim se chega
Com ar de besta
À procura de tino
No seu destino
Ser que se olha no espelho
E se vê a mim feito fedelho
Ser encaixado
Que demora a ser achado


17.
Depressa, que eu quero chegar
A tempo, a casa
Não vá a festa acabar
E eu não poder festejar
Festejar a alegria
Que sempre é erigida
E depois dirigida
A todo aquele que à casa
Chega


18.
Fora
A casa é enorme, disforme
Destilando impróprias sensações
A quem por lá passa
Com vazios corações
Dentro
É interminável beleza
Para quem tiver a esperteza
De lhe abrir a porta
E por ela entrar a adentro


19.
Não querer
A casa voltar
É, com frequência
O desejar do menino
Que precisa
De paciência
Para encontrar de volta
O seu caminho
Mas quando lhe dão
A todo o momento
O decifrável pergaminho
Que lhe mostra o tormento
De tal destino
Logo, feito peregrino
Ele desiste de tal fomento


20.
Conflito, aflito
Vagando na frágil bruma
Do mar da vida
Que veio com espuma
Perdido, e não querido
Insiste em não entender
Que não foi pedido
E que não devia
Por aqui se demorar
Apesar de haver quem
Lhe peça para ficar
E não se vai sem amarra
De quem, com certa garra
Não tem medo de lhe mostrar
A cara.
CARLOS SOUSA RAMOS (1956)
Ode à Vida e Outros Poemas

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