no
estábulo do meu pai,
antes de a erva acidular a
minha língua
e
o leite mudar a minha vida.
Não morro antes de o meu jarro estar
cheio a transbordar
e
o amor da minha irmã me lembrar
como é bonito o nosso vale,
onde amassam a manteiga
e, na Páscoa, abrem marcas no
toucinho…
Não
morro antes de a floresta mandar os seus temporais
e de as árvores falarem de verão,
antes
de a minha mãe ir pela rua com um lenço vermelho,
atrás do carro aos solavancos, no qual
ela
empurra a sua felicidade maças, peras, galinhas e palha…
Não morro antes de se fechar a porta por
onde
entrei,
em frente da macieira…
THOMAS
BERNHARD (1931-1989) – Na Terra e no
Inferno
(tradução de
José A. Palma Caetano)
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