segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

PRIMEIRA LUA DE INVERNO

I

Repousa em redor a pequena vila.
Às luzes que cruzam a rua
Juntam-se as lanternas de um fiacre.
Poluídos para alguns os frutos do dia,
Deixam o mercado agora ermo,
Sem uvas nem girassóis.
Ouve-se música através dos muros,
No jardim alguém tenta calar o apelo
De um amor recusado, ainda em chagas.
Mas na cascata a água, precipita-se,
Fresca num jorro rápido.

II

Acabou o Sol & o sino da tarde leva
Os deuses, um a um, a um passado provisório,
Donde irão emergir para o grande cisma
Do Inverno, o primeiro sobro do qual
Já se ouve subir os píncaros da serra.
Para a deusa branca chegou o fim do seu enigma,
A sua ruína coroa agora as ruínas do castelo:
Aqui morrem os deuses & as borboletas.
Rejeitados olhamos apenas,
Recíproco, um brilho no vazio.

M.S. LOURENÇO (1936-2009) – O Caminho dos Pisões

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