Um rio seco é como a alma
De um poeta que não pode
escrever, embora conheça
Quase perfeitamente o tema e as
mágoas
Da morte ressequida como o
estio. Mas o que queria,
E foi outrora um mar puro do
mais puro cristal
Recua, torna-se sombrio como
arbustos amoniacais, como as
Folhas antigas do amor,
E abandona o pensamento. Não
imagina
Nada que o possa substituir: só
no pólo
Da memória oscila uma absurda
bússola.
Por isso o rio, entre as
lamentáveis árvores sombrias,
É uma agonia de pedras, de
horrores submersos
Agora revelados, descoloridos.
Por isso existem estas,
Estas pedras, estas ninharias
Quando o rio é uma estrada e a mente
um vazio.
MALCOLM
LOWRY (1909 – 1957)
As Cantinas e Outros poemas do Álcool e do
Mar
(selecção e
tradução de José Agostinho Baptista)
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