quarta-feira, 23 de maio de 2012

EM ATROZ mágoa

                EM ATROZ mágoa choro todo o dia;
quando ela cresce mais, cresce meu pranto;
a mágoa não, porque chegou a quanto
cruel fortuna ou fado injusto envia.
                A noite chega e penso que encobria
meu mal o dia ou que jamais foi tanto;
dobro o chorar e caio, entretanto,
sem o vigor que em pé me conduzia.
                Ali meus olhos lacrimosos cobre
amargo sono e, bem que o pranto cessa,
a mágoa faz crescer sonho tão triste.
                Corto-o e ele volta; nisto o sol descobre
seu rosto e banho o meu aqui na espessa
chuva com que, cruel Fílis, me aspergiste.

FRANCISCO DE FIGUEROA (1536? – 1617?)
in Antologia da Poesia Espanhola das Origens ao Século XIX
(selecção, organização, tradução, posfácio e notas de José Bento)

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