sábado, 12 de maio de 2012

HORAS DE SPLEEN

Nesta cidade aborrecida e mona,
passo horas de spleen estiraçado…
sobre um divã, ouvindo um mau teclado,
ou rechinar monótona sanfona.

Lembra-me então a Infanta Magalona,
oiço os miaus de um gato num telhado,
sigo o zumbido de um mosquito alado,
- tomo haschich, morfina, ou beladona.

Mas nisto, rompe o sol a névoa aquática,
vem com capa de asperges ou dalmática,
toda doiro e rubins ensanguentados…

Quero então ser Grão Turco. – E, nas ventoinhas
das torres, empalar os alfacinhas,
- com crepes de chorões gatos pingados!

GOMES LEAL  (1848 – 1921)
Mefistófeles em Lisboa – e outros humorismos poéticos
(edição de José Carlos Seabra Pereira)

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