que me come as entranhas,
carniceiro,
e é meu único, constante
companheiro,
lavra-me as penas com seu bico
curvo.
No dia em que deva o último sorvo
Beber de meu negro sangue,
requeiro
Que me deixeis com ele só
fronteiro
Em momento, sem mais ninguém de
estorvo.
Pois quero fazer triunfo de agonia,
Enquanto ele os meus despojos
traga,
Surpreender em seus olhos a
sombria
olhada ante a ameaça da aziaga
sorte, sem ter em quem
satisfazia
a fome atroz que nunca se lhe
apaga.
Salamanca,
26- X – 1910
MIGUEL DE
UNAMUNO (1869 – 1936) – Antologia Poética
(selecção,
tradução , prólogo e notas de José Bento)
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