quarta-feira, 30 de maio de 2012

PUREZA

Falemos de pureza
Como quem fala de casas, íntimos habitáculos
Que o nosso ser constrói duma pedra branca
Para outra ainda mais branca, mais lívida, mais louvada
Nos altares da arquitectura divina.

E duma pedra justa
Ajustada ao saber que nasce do pensar
Toda a matéria em beleza.
Expor a pureza na dor, na flor enlouquecida
Pela renúncia.

Sentada ao pé de nós
Toda envolta na noite, a pureza destrança
Os seus cabelos sombrios,
Entretendo os soldados mais despertos
Da minha guerra aberta.

Deitada junto a nós
Desvelada no dia, retira uma por uma
As extremosas mãos que lhe afagam os seios
E desarma o olhar na vasta, sepulcral,
Soturna sede do meu sexo.
ARMANDO SILVA CARVALHO (1938)

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