quinta-feira, 10 de maio de 2012

CRIATURAS

CRIATURAS QUE se reproduziam em interstícios
que se deitavam em divãs
cada vez mais estreitos

a luminosa vocação, a luminosidade
de uma terra sábia e rotunda
suplantava aqueles gritos portadores
de uma defunta órfica voz

Eram as criaturas presas
do seu século
retraídas nos olhos mal afeiçoados

Filhos mais velhos a atentarem
em como o corpo incha e se perfaz a polpa
como o limite se delimita corpo a corpo
e engorda

Cobriam-se as folhas de uma letra hirsuta
e os mais novos sorriam como lábios.
LUIZA NETO JORGE (1939 – 1989) - Poesia

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