quinta-feira, 3 de maio de 2012

OS INSTRUMENTOS DE TORTURA


Falo deste quarto    excessivo    o teu rosto iluminado por dentro do espelho, o sofá de plástico recostado na memória, a cadeira partida, um anel esquecido entre as poeiras do amor. E também o armário onde dormem, ainda, as roupas, as viagens, as cartas    e todos os sapatos de todos os percursos acumulados no tapete, o candeeiro do tecto sobrevoando a terra despida dos nossos corpos. E, depois, a cama de casal, por assim dizer, ineficaz, a cama estreita de prazer e, entre as duas, o esqueleto do mar, O copo vazio.
Falo, portanto, do silêncio    deste quarto.

MANUELA PARREIRA DA SILVA (1950) – O Álbum de Vishnu

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