sexta-feira, 18 de maio de 2012

ELEGIA XVIII – PROCESSO DO AMOR

Quem quer que ame, se não determina
O correcto e verdadeiro objectivo do amor,
É dos que vai ao mar para ficar enjoado.
O Amor nasce como a cria do urso: se lambemos demais
O nosso amor, e a novas e estranhas formas o forçamos,
Erramos, e de uma massa informe um monstro fazemos.
Não seria um monstro um vitelo que crescesse
Com cara de homem, embora melhor do que a sua?
A perfeição reside na unidade: prefere
Primeiro uma mulher, e depois uma só coisa nela.
Eu, quando avalio o ouro, posso pensar
Na ductilidade, na aplicação,
A salubridade, o engenho,
Da ferrugem, da sujidade, do fogo sempre livre;
Mas se o amar, é porque se tornou,
Pela nossa nova natureza (o Uso), a alma do negócio.
                      Tudo aquilo nas mulheres podemos considerar
(se as mulheres o tivessem) e porém amar apenas uma.
Podem os homens mais ofender as mulheres dizendo
Que as amam por aquilo em que elas não são elas?
Faz a virtude das mulheres? Devo eu esfriar o meu sangue
Até que tanto seja, quanto encontre uma sábia e boa?
[…]

JOHN DONNE (1572 – 1631) – Elegias Amorosas (tradução de Helena Barbas)

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