segunda-feira, 21 de maio de 2012

NÃO TROUXE

NÃO TROUXE palavra alguma
rima qualquer, mosca morta.
Um vento rompeu as longas toalhas,
estilhaços de roupa pelo chão.
Vim de mala fria, passar a noite e o dia
de amanhã, se ainda caibo.

não tem graça nenhuma esta figura
levantada, que me deram.
Dói-me a formiga da manhã, e o grito
da seiva metálica ao cair da noite.
Vou surdomudo, finalmente,
no poema sem gente.

Um dia verás que tenho olhos, boca,
quilos de carne quente.
ANTÓNIO FRANCO ALEXANDRE (1944) - Poemas

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